As Caravelas, os Tropeiros e as Startups
Há alguns dias, após participar de alguns eventos sobre investimentos em startups, percebi que investir em empresas que apostam numa ideia sem a certeza que ela pode ter sucesso não é algo novo, exclusivo do mundo tecnológico, mas sim uma situação que já vivenciamos antes com as famosas expedições realizadas em caravelas ou então, no caso brasileiro, com os tropeiros que adentravam o país em busca de novas oportunidades de negócios.
É claro que as cifras e os projetos são completamente diferentes de 500 anos atrás, mas o simbolismo que representa uma caravela atravessando um oceano na busca por novas e promissoras oportunidades não é tão diferente das novas empresas que, a partir de uma ideia e muito comprometimento, criam mercados e reestruturam a lógica econômica até então vigente.
Quais os riscos que ambas as partes estavam dispostas a assumir para que pudessem ter sucesso? O investidor, que em alguns casos era a Coroa, escutava atentamente o plano do Capitão e como ele pretendia chegar ao local de destino e principalmente o que esperava encontrar quando chegasse lá. A ele era perguntado quais eram os conhecimentos que ele tinha sobre aquele assunto e quão boa era a sua equipe para que pudesse enfrentar as condições tão adversas às quais estava se dispondo. Além disso, o que se queria saber é se a viagem traria resultados isolados ou se ela abriria uma nova rota comercial para o investidor explorar no futuro.
Notaram as semelhanças que existem com os investimentos feitos nas startups?
Cada investidor tem uma linha de pensamento, mas todos eles precisam realizar cálculos avaliando riscos x oportunidades. Assim como séculos atrás, não se está investindo em uma empresa tradicional na qual os possíveis resultados são facilmente auferidos olhando as demais no mercado. Vislumbrar novas rotas de comércio ou encontrar novos mercados era uma tarefa de alto risco, que mesmo com planos bem traçados e uma equipe muito qualificada poderia dar errado. No entanto, quando o projeto saía como esperado os resultados eram incríveis e todos se perguntavam: “por que não fiz isso antes?”
A popularidade que o tema da tecnologia vem recebendo e os exemplos de sucesso de pessoas mundo afora ganhando dinheiro com esse tipo de investimento vem atraindo a atenção das pessoas que começam a olhar para fundos que investem em startups com bons olhos. Além de serem importantes para o desenvolvimento do ecossistema de inovação, esses fundos tem a capacidade de gerar retorno acima de qualquer expectativa se, tal como as caravelas atravessando o oceano, encontrarem empresas que se destacam no mercado com soluções inovadoras e escaláveis. Vale dizer: sempre que falamos em tecnologia e inovação lembramos do Google, Facebook, Uber, Airbnb, mas existem outras milhares de empresas que prosperam e que, inicialmente, eram apenas uma ideia que felizmente foi financiada para que pudesse se desenvolver.
Cabe, no entanto, avaliar de maneira racional o perfil de quem vai investir nesse modelo. O retorno financeiro desses fundos costuma ser de longo prazo, em torno de 5 a 7 anos, caso uma das empresas na qual ele investe obter sucesso. Por investirem em empresas iniciantes não é tão claro, no momento do aporte, se haverá sucesso ou não no futuro e é por esta razão que se costuma investir em várias empresas, diluindo os riscos e aumentando as possibilidades de sucesso. Em resumo: tem que ter estômago pra correr esse tipo de risco e, inevitavelmente, não investir um recurso que poderá ser necessário para outros planos.
No passado, quando os grandes empresários tradicionais resolveram apostar em desbravar novos mercados a partir de investimentos em “outras empresas” eles não tinham a certeza de que teriam resultados positivos, mas sabiam que se continuassem fazendo as mesmas coisas em algum momento sua riqueza poderia chegar ao fim. A roda do desenvolvimento, cada vez mais acelerada, obriga os investidores a estar constantemente olhando para novas oportunidades e dedicando uma parte dos seus recursos para desbravar esses novos oceanos. Talvez há 10 anos o caminho para uma pessoa física colocar dinheiro em fundos que investem em startups fosse quase impossível, mas hoje já existem boas oportunidades para diversificar seus investimentos e fazer parte desse movimento. Quem sabe o fundo no qual você investe não será o financiador da próxima grande empresa?