O Futuro das Crianças Começa CEDO
A Revista Exame, já há um bom tempo, tem dado relativa atenção para um assunto que deveria estar entre os principais na agenda de qualquer governante: a importância da Primeira Infância. Lá em 2014 eu já escrevi um texto, baseado numa reportagem da época, intitulado “Uma Creche para os Pais”, o qual discutia a importância de programas que buscavam conscientizar os pais que o sucesso dos seus filhos está diretamente ligado aos estímulos que ele recebe desde os primeiros meses de vida. De lá para cá o uso de celulares aumentou, os DVD’s com soluções milagrosas para acalmar os filhos surgiram e os Tablets para entretenimento tomaram conta das casas que possuem crianças. No entanto, as tentativas de convencer os pais que suas atitudes diante dos filhos influenciam no desenvolvimento das suas habilidades ainda custam a entrar nos lares brasileiros.
O Nobel em Economia James Heckman esteve no Brasil em 2017 e defendeu a ideia de que se as crianças forem submetidas desde cedo a bons estímulos elas podem ter mais sucesso na vida adulta. Essa ideia já é realidade em algumas cidades brasileiras e está ganhando cada vez mais força com o programa Criança Feliz, que vai buscar realizar um acompanhamento mais profundo das crianças de 0 a 6 anos na busca por oferecer mais incentivos para as crianças se desenvolverem.
Uma das principais metas do programa é convencer os pais que conversar com os seus filhos e instigá-los com atividades e brincadeiras é necessário para que elas cresçam melhor e tenham mais oportunidades. Atualmente, somente 10% dos pais acreditam que conversar com seus filhos é importante e o resultado disso é que uma criança de baixa renda chega aos 3 anos de idade sabendo apenas 45% do vocabulário comparado a uma criança de alta renda, uma situação difícil de reverter nos anos seguintes.
Outro estudo realizado na Nova Zelândia mostrou que adultos que tiveram uma infância difícil foram responsáveis pela maior parte de Internações em hospitais, Pedidos de Auxílios Sociais e Condenações Criminais. Ou seja, não prestar atenção ao desenvolvimento das nossas crianças nas fases iniciais tem um custo social elevado décadas depois que não pode ser negado.
Segundo o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, é preciso avançar nos programas de Primeira Infância porque o Bolsa Família é um programa de sucesso na transferência de renda, mas não de desenvolvimento da população. Desta maneira, se quisermos desenvolver uma sociedade que tenha condições de competir em igualdade no mercado de trabalho precisamos dar atenção aos primeiros anos de vida das crianças, convencendo os seus PAIS que as atitudes deles são fundamentais para que o futuro possa ser melhor e com mais oportunidades.
Num país no qual 74% das crianças de 0 a 4 anos vivem em famílias com renda per capita de menos de um salário mínimo é fundamental que olhemos para esse assunto com a devida importância que ele merece.
Converse, Brinque e Instigue o seu filho durante os primeiros anos de vida e você terá um adulto com mais probabilidades de sucesso. O famoso QI representa apenas 4% da capacidade de uma pessoa ter sucesso, ou seja, preparar um ambiente que favoreça o desenvolvimento desde cedo é uma aposta bem mais acertada para um futuro promissor das nossas crianças.
Fonte: Revista Exame, edição 1147 – 11/10/2017. Páginas 94 a 98.