Lições de um Velejador

Lições de um Velejador

Crédito foto: www.amyrklink.com.br

Amyr Klink é um navegador brasileiro que já se aventurou inúmeras vezes por nossos oceanos. Há mais de 30 anos atrás o então jovem de 28 anos atravessou o Oceano Atlântico em um barco a remo (isso mesmo, sem motor) em uma viagem que durou mais de 3 meses. Depois disso realizou outras viagens que renderam livros e reconhecimentos.

Velejar é um ato que exige coragem e extrema disciplina. Em um livro do mesmo Amyr Klink ele conta que precisava acordar a cada 45 minutos para verificar informações enquanto realizava uma expedição pela Antártida. Ou seja, meses sem poder tirar nada mais do que um cochilo, exilado em seu próprio barco e a mercê dos mares e das suas próprias decisões.

No entanto, foi numa entrevista que Amyr concedeu para a ESPN há algumas semanas que eu compreendi que os ensinamentos do barco poderiam ser facilmente replicados para a vida real, em especial à do brasileiro. Em determinado momento perguntaram o que era mais desafiador para quem estava velejando sozinho e o mesmo respondeu algo como o seguinte:

“No barco não existe ninguém para te ajudar, ninguém para você gritar quando tem algum problema. Tudo o que acontece ali é de sua responsabilidade e cabe a você resolver. Se tem água entrando no barco você só vai dormir depois que consertar o furo e retirar a água que não deveria estar ali”.

Após a entrevista essa resposta ficou martelando na minha cabeça e era impossível não associá-la com a maneira como o pensamento do cidadão brasileiro vem sendo moldado nos últimos anos.

Estamos formando cidadãos que nem de perto aplicam os ensinamentos de um velejador. Infelizmente estamos criando uma realidade na qual os problemas aos quais estamos expostos nunca são de nossa responsabilidade e não cabe a nós buscar uma solução para resolvê-los. Seria como o velejador que ao ver um buraco no seu barco não faz nada para consertar e, após o naufrágio, culpa alguém pelo problema que não foi resolvido.

O Pai, a Mãe, a Esposa, a Empresa, o Banco, o Governo. Todos são responsáveis pelo problema, exceto o próprio indivíduo que por uma razão ou outra não foi capaz de evitar ou buscar uma solução ao identificar que alguma coisa estava errada. Que possamos assumir a cada dia nossas responsabilidades e estar presente quando algo precisar ser feito, afinal,  uma sociedade acostumada a deixar seus resultados a mercê da sorte ou das ações dos outros torna-se dependente e nunca poderá velejar com coragem e segurança por águas desconhecidas.

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